NOITES CLARAS

ERA TARDE DA NOITE QUANDO OUVI SEUS PASSOS...

ME LEVANTEI NO IMPULSO DE UM SUSTO, TATEEI A PROCURA DOS MEUS ÓCULOS SOBRE O CRIADO QUE ADORMESSE TODAS AS NOITES AO LADO DE MINHA CAMA.

ME VIRO, OLHO ATRAVÉS DA JANELA E EM SEGUNDOS RECONHEÇO A LUZ QUE SE ACENDE.

ELE PARECIA TRANSTORNADO... TAMBÉM PUDERA, DEPOIS DE TUDO O QUE ACONTECERA DIAS ANTES NEM MESMO EU QUE ACOMPANHO TUDO À DISTÂNCIA ELEVADA DO SÉTIMO ANDAR DE UM PRÉDIO NÃO TERIA O DESCANÇO DOS PENSAMENTOS QUE ATÉ A ESSA HORA COZINHAVA A MINHA CABEÇA E TENHO A CERTEZA QUE A DELE FERVIA TAMBÉM.

AGORA ELE ESTÁ NA SALA, ANDA COMO SE PERDIDO ESTIVESSE EM SEU PRÓPRIO APARTAMENTO. É PERCEPTÍVEL QUE O QUE ELE BUSCA É UMA RESPOSTA PARA O TURBILHÃO DE VOZES QUE O PERSEGUEM CLAMANDO POR UMA ATITUDE , DAQUELAS QUE SE DEVE SER TOMADA DE UMA UNICA VEZ, QUE NÃO HAJA ESPAÇO PARA UMA RECAÍDA OU DETURPAÇÃO.

O TELEFONE ESQUENTA EM SUAS MÃOS... SERIA UMA BOA IDEIA LIGAR A UMA HORA DESSAS?

ELE ENTÃO CAMINHA ATÉ A PASSAGEM QUE O LEVA A COZINHA, E EU PERCO A VISÃO DO QUE ACONTECERIA A SEGUIR, A LUZ DO AMBIENTE VAZA PELA ÁREA DE SERVIÇOS, A MINHA CURIOSIDADE VAI A PONTO DE IMAGINAR MILHARES DE POSSIBILIDADES DE ACONTECIMENTOS... SERÁ MESMO QUE ELE LIGOU?

AS LUZES SE APAGAM E ENFIM FICO EM MEIO AO TERROR DE PRESENCIAR A VISTA DA JANELA DE UMA SALA VAZIA, SEGUNDOS SE PASSAM E EU PERDIDO EM MEUS PENSAMENTOS QUASE DEIXO DE REGISTRAR A VOLTA DELE, DESTA VEZ CARREGANDO CONSIGO ALGO COMO UMA MALETA OU UM RELICÁRIO. ELE SE SENTA, DEIXA SOBRE UM ACENTO O CINZEIRO E EM SEGUIDA UM CIGARRO RECEM ACESO QUE ESFUMAÇAVA INEBRIANDO UMA MADRUGADA SILENCIOSA. AO LADO UM BAR LHE ACOLHIA COMO A UM PAI QUE ENCHERGA NO FILHO A VONTADE DE DESABAFAR, UM COPO SE ENCHE, ME PARECIA WHISKY OU CONHAQUE, ALGO QUE TORNOU-SE ENVELHECIDO COM O TEMPO, TANTO QUANTO AQUELE MOMENTO PARECIA SER NOVO PARA ELE.

A CAIXA SE ABRE, E NELA PERCEBO PAPEIS DE VARIOS TIPOS, PARECIAM CARTAS, ALGO PROXIMO A FOTOGRAFIAS E OBJETOS QUE PRESUMO EU FAZER PARTE DE TODO O CONTEXTO DE ARREPENDIMENTO DO QUAL ELE SENTIA NAQUELE MOMENTO.

FOI UM DOS INSTANTES MAIS COMOVENTES DO QUAL EU JÁ PRESENCIEI (EM TESE) JÁ QUE VIA TUDO A PARTIR DE DUAS JANELAS SEPARADAS POR ALGO EM TORNO DE 50 OU 60 METROS E MESMO ASSIM, SEM O CONHECER PESSOALMENTE ME SENTI LIGADO A ELE NAQUELE MOMENTO, POR INSTANTES PUDE SENTIR O GOSTO DE SER DEIXADO ALÍ, NAQUELE ESTADO EMOCIONAL, COMO SE NADA MAIS NO MUNDO FIZESSE SENTIDO...

A CENA SE MANTEVE POR MINUTOS, A CADA FOLHA DE PAPEL DESDOBRADA POR ELE UMA MONTANHA DE PENSAMENTOS E LEMBRANÇAS DESLIZAVAM-SE TAMBÉM E ERA AO MESMO TEMPO AFOGADAS PELA BEBIDA DE GOSTO FORTE, MARCADA POR SUA FACE QUE FECHAVA OS OLHOS COM FORÇA PARA ENGOLIR TUDO AQUILO QUE DESCIA POR SUA GARGANTA JUNTO AOS TRAGOS QUE DAVA.

ME PERDI EM MEUS PENSAMENTOS, TUDO AQUILO ME FEZ LEMBRAR DE HISTÓRIAS ENTERRADAS POR MIM MESMO. MOMENTOS DA VIDA DOS QUAIS NÓS NÃO NÔS ARREPENDEMOS, PORÉM SE ESQUECE, OU FINJE-SE ESQUECER! E QUANDO A MINHA MENTE VAGAVA POR QUALQUER LUGAR PERDIDO EM SÃO PAULO PERCEBO SUA CORTINA RASGAR O SILÊNCIO E SE FECHAR. NADA MAIS PODERIA SIGNIFICAR ALGUMA COISA. ERA CERTO QUE AQUELA NOITE ACABARIA EM UM PORRE SANTO, DAQUELES QUE SERVEM PARA MORRER, NASCER E VIVER NOVAMENTE...

COMO UMA MANHÃ QUE JÁ NASCE CARREGADA DE ESCURIDÃO, OU DE TARDES DE VERÃO QUE SE DELEITAM EM NOITES CLARAS.